Kandis Sebro é dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Campos Petrolíferos (Oilfields Workers’ Trade Union – OWTU) de Trinidad e Tobago. Ela explicou como está a situação política e socioeconômica no país caribenho devido à pandemia de coronavírus (COVID-19), além da situação dos trabalhadores e das trabalhadoras e do endividamento do governo diante da crise.

De acordo com Kandis, como em outros países, as pessoas estão ficando em casa e funcionam apenas de serviços essenciais, mas muitos estão perdendo seus empregos.

“Há muitas empresas de médio porte que não podem arcar com os custos e outras que não querem arcar com os custos. Estão enviando funcionários para ficar em casa, mas não querem pagar seus salários. Para todos que são temporários ou trabalham de maneira precária, não há emprego no momento e, por isso, há muitas pessoas sem recursos. Existe uma ajuda do governo para salários, mas não é o suficiente “, afirmou.

Como toda a população está ficando em casa, a COVID-19 é mais ou menos estável no país, com cerca de 116 casos confirmados e 8 mortes, “mas esses casos têm quase um mês e começaram a abrir a economia, mas nem todas as empresas estão trabalhando ainda. O setor manufatureiro e os setores essenciais estão funcionando. Há empresas que pediram permissão para iniciar acordos que afirmam que vão ‘amarrar’ a economia se não começarem “, explicou.

Sobre como as pessoas estão enfrentando as consequências da pandemia, Kandis afirma que há ações de solidariedade em todo o setor agrícola devido à falta de alimentos para população que está sem dinheiro sem pode trabalhar. 

Segundo a dirigente, o movimento sindicato tem lutado pelos que têm recursos nem emprego, fazendo denúncias para que os empregos sejam mantidos e para garantir um ambiente laboral com proteção dos trabalhadores. “Em uma empresa de eletricidade, eles queriam que todos os funcionários trabalhassem e dissemos que não. Isso não é possível com a pandemia, é um perigo para todos, não faz sentido”

Quanto aos movimentos sociais, ela conta que foi criada uma comissão nacional para tentar encontrar soluções contra o coronavírus, com muitas pessoas representando diferentes grupos, mas sem incluir o setor agrícola nem a juventude.

“Denunciamos essa exclusão e eles se organizaram para fazer contribuições à proposta que essa comissão criou. Como movimento sindical, estamos denunciando tudo o que não gostamos, que parece não fazer muito sentido neste momento e, é claro, a questão da mulher, com muitos fóruns sobre a situação da COVID e o perigo para as mulheres que estão em casa na pandemia”.

Com relação à situação política no país, ela diz que o cenário atual é complicado porque neste ano há eleições gerais e há muito discurso em torno das decisões do governo. Houve um grande debate sobre a situação na vizinha Venezuela, porque a oposição defende sanções e enviou uma carta à Embaixada dos Estados Unidos.

“Houve um navio com petróleo com destino à Aruba e parece que o petróleo foi para a Venezuela, o que gerou muito debate e o pedido de renúncia do Ministro da Segurança Nacional”, explica Kandis.

A sindicalista afirma que a situação é tensa porque a oposição quer atrair atenção “porque em breve haverá eleições e a oposição quer mostrar que é capaz, que suas políticas fazem mais sentido. Isso não funciona muito bem, muitas pessoas não entendem porque estão tentando criticar o que o governo está fazendo durante a pandemia”, completa.

Falando sobre o endividamento do país devido à crise sanitária da COVID-19, Kandis relata que o governo aceitou um empréstimo do Banco Latino-Americano.

“Além disso, o governo tirou dinheiro de nossas reservas. Muitas pessoas falaram que é possível não termos o suficiente para pagar esse novo empréstimo. Temos que acompanhar como vamos progredindo financeiramente, mas também não houve muito diálogo sobre o que será feito a respeito. Havia muitos projetos de desenvolvimento e não apenas para o combate à COVID “, destacou.

Kandis acrescenta ainda que o momento é crítico para o país porque estão abrindo tudo e retomando as atividades no meio da pandemia e que “agora veremos qual é realmente a situação. Claro que temos que olhar para a economia, somos dependentes do petróleo e houve muitas mudanças no preço, mas temos que encontrar recursos e ver a saúde também. Precisamos observar esse equilíbrio de perto agora para ver o que vai mudar, porque já vimos o que aconteceu com outros países quando começaram a abrir, houve um grande aumento nos casos de COVID”, alertou.

Para a sindicalista, o mais importante agora “e que já vemos que os gestores de muitas empresas não estão impondo regras estabelecidas para proteger seus trabalhadores. Estamos olhando a situação de perto para ver como vai mudar “, concluiu.

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