Por Carlos Tautz*

Provavelmente o círculo inferior da economia (nós) nunca saberá os detalhes da Operação Salva Eike, que o próprio e o governo brasileiro vem desenvolvendo, após o ex-homem mais rico do Brasil ter tido revelada a péssima situação financeira de suas empresas. Mas, os contornos dessa Operação, tornados públicos aqui e ali de um noticiário sempre que à serventia de Eike, são nítidos. Eles repetem a dinâmica e a lógica que permitira a ascenção econômica desse moço que produz menos do que se pensa, mas que habilmente cria uma imagem pública de que vale muito mais do que em verdade vale.

A Operação em andamento envolve dinheiro público (do BNDES e de negócios com a Petrobrás) e uma blindagem que a imprensa faz à imagem de Eike como um suposto exemplo de empreendedor que, por méritos próprios, teria chegado onde chegou.

No banco estatal, o antigo oitavo homem mais endinheirado do planeta montou um verdadeiro eikeduto que lhe garante muito dinheiro público, largamente subsidiado pelo Tesouro, apesar dos insistentes indícios de fracasso, ou de, pelo menos, dificuldades por que passam seus empreendimentos. Foi isso que aconteceu no dia 18 passado, quando Eike anunciou ter obtido mais de R$ 900 milhões em novos empréstimos do BNDES.

O esquema de apoio ao ex-exemplo de capitalista tem outra perna na Petrobras, de onde Eike tirou técnicos superqualificados, e as valiosíssimas informações que eles carregam na memória, para montar sua própria empresa de petróleo e transacionar com a estatal do petróleo.

A outra parte de sua estratégia de blindagem, que mais uma vez o ajuda agora no momento em que ele recorre às boas e velhas tetas da Viúva, é o consenso social em torno de si. Ele a estimula. E a imprensa corporativa gostosamente apóia. Ao inflar números e possibilidades para seus negócios, Eike avança no único mercado que domina: as expectativas em torno de possíveis ganhos e a valorização de suas empresas. Assim, comprar e vender participações de suas companhias vira um grande negócio. Para o próprio Eike, é claro.

Foi isso que aconteceu há poucas semanas. Como noticiou O Globo (22/4): “Os papéis ON da petrolífera [OGX, de Eike] (com direito a voto) avançaram 18,38% a R$ 1,61, depois de terem subido mais de 19% na abertura. O motivo, segundo analistas, foi uma reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, no fim de semana, informando que um pacote de socorro estaria em andamento para salvar a OGX”.

Comparadas a outras corporações brasileiras, as empresas de Eike produzem e faturam pouco. Seus ganhos residem no perde e ganha desse jogo de expectativas, em que estatais aceitam negociar com um conglomerado em dificuldades e a imprensa propagandeia que tudo isso é normal no capitalismo. Mas, boa parte da responsabilidade por volumes massivos de dinheiro público serem desperdiçados em operações de salvamento de empresarios falidos é nossa. Aceitamos e reproduzimos, também gostosamente, que o ícone de capitalista brasileiro represente nosso próprio ideal de crescimento individual.

*Jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transpar~encia e controle social de governos e empresas.

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