por Tatiana Félix, Jornalista da Adital

No final da tarde de ontem (10) o governador do Ceará, Cid Gomes, surpreendeu moradores da Comunidade Jangadeiro, no bairro Aldeota, com uma visita inesperada para falar sobre o projeto de construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ramal Parangaba-Mucuripe – e das remoções das famílias que serão afetadas pela obra, que faz parte do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) para a Copa do Mundo de 2014, em Fortaleza.

Essa não é a primeira vez que o governador tenta, pessoalmente, convencer as famílias a aceitarem suas propostas. Em agosto de 2011, Cid Gomes também visitou a comunidade Aldaci Barbosa, no Bairro de Fátima. Nas duas ocasiões ele foi recebido com resistência e protestos.

Isso porque, as famílias não aceitam a proposta do governo do Estado de levá-las para o bairro José Walter ou Messejana, distantes do local (em alguns pontos 18km) onde ficam as comunidades ao longo da linha Parangaba-Mucuripe. “O aluguel social no valor de R$400 é muito baixo e os apartamentos oferecidos como troca no José Walter, nem começaram a ser construídos. As indenizações também são muito baixas”, explicou Roger Pires, integrante do Comitê Popular da Copa em Fortaleza, esclarecendo ainda que cada caso [de remoção e indenização] é específico, de acordo com a cartilha lançada recentemente pelo governo para explicar o projeto VLT.

Para ele, a visita surpresa do governador não foi uma forma “legítima” de entrar em contato com uma comunidade, já que não há garantias de que as promessas dele serão cumpridas. De acordo com Roger, as comunidades esperavam por uma reunião oficial ou uma assembleia com ata e documentos, mas “não há diálogo” e o acesso ao governo é difícil. “A ação deixa a gente ainda mais indignado e mais atento para a Copa, e o que a gente puder fazer para defender as famílias e os direitos humanos, a gente vai fazer”, enfatizou.

Francinete Gomes, integrante do Movimento de Luta em Defesa da Moradia (MLDM), disse que a atitude do governador reflete um “ato desesperado” pela proximidade dos eventos esportivos na cidade (Copa das Confederações 2013 e Copa do Mundo 2014). “Não tem diálogo com o governo. O governador chega de surpresa e acha que a comunidade está disponível para falar na hora que ele quer”, criticou.

De acordo com Francinete, o projeto de construção do VLT afeta 21 comunidades de Fortaleza, ou cerca de 15 mil famílias que moram nessas comunidades localizadas às margens dos trilhos, número bem maior do que o estimado pelo governo de 5 mil famílias.

Segundo Roger, existem suspeitas de que houve “má-fé” na elaboração do projeto, já que a exemplo da Comunidade Lauro Vieira Chaves, na Vila União, “a desapropriação inicial era de 300 casas, depois de reuniões reduziu para 22 casas”. “Acreditamos que o projeto foi mal feito ou que aproveitaram a ocasião para fazer uma limpeza social [na cidade]”, disse.

Fonte: Adital

 

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