A Rede Jubileu Sul Brasil saúda com alegria e entusiasmo a movimentação da sociedade civil em defesa dos seus direitos em diversas partes do país! Este fenômeno constitui um levante social em favor não só de mudança na política de tarifas dos transportes públicos, mas de mudanças estruturais na economia e na prática de outro desenvolvimento. A paisagem sedimentada na inércia, fruto do processo de amansamento por que passou o povo brasileiro por séculos, se transfigura com o povo ocupando os espaços públicos, desde o Congresso Nacional até as praças e avenidas centrais das grandes e médias cidades do Brasil!

“DESCULPEM O TRANSTORNO: ESTAMOS MUDANDO O BRASIL”, dizia um cartaz na manifestação de 100.000 pessoas no Rio de Janeiro em 17 de junho.

Jubileu Sul Brasil expressa aqui seu apoio aos movimentos populares que estão realizando manifestações em diversas grandes e médias cidades do país por justas causas. A ampliação da agenda dos protestos e do número de manifestantes surpreendeu o País. Para nós é um sinal de que a lavagem cerebral diária do consumismo, da publicidade comercial, da violência diária veiculada por filmes e noticiários da grande mídia não conseguem mais segurar a indignação popular contra a corrupção de políticos, grandes empresários e banqueiros, o mau uso dos fundos públicos, a falta de investimento nos direitos sociais e serviços públicos garantidos pela Constituição, entre os quais deveria destacar-se o transporte público de massa, suficiente e de qualidade, para viabilizar uma vida urbana digna para a maioria trabalhadora.

O movimento das ruas inclui outras reivindicações:

Contra o aumento abusivo das tarifas de transporte público e pelo passe livre;

Contra o aumento do custo de vida nas cidades que sediarão a Copa e as remoções forçadas de populações pobres nas cidades que sediarão a Copa e Olimpíadas, em prol de interesses privados;

Contra os altos gastos e dívidas públicas com Megaeventos enquanto os serviços públicos seguem em péssima situação para as camadas populares que deles precisam;

‘Fora Feliciano’ da Comissão de Direitos Humanos: não nos representa;

Contra a corrupção e os corruptores: contra a PEC 37, a “PEC da Impunidade”;

Por mais recursos para saúde e educação, segurança, trabalho e reforma agrária;

Pelo direito constitucional de livre expressão e livre trânsito;

“BRASIL, É HORA DE MUDAR! PROFESSOR VALE MAIS DO QUE O NEYMAR!” cantavam os manifestantes.

Os manifestantes, que iniciaram jornadas de mobilização há algumas semanas, também sofreram uma tentativa inicial de criminalização por parte da grande imprensa e outros setores conservadores, da mesma forma como têm sido tratados os movimentos sociais no Brasil das últimas décadas, mesmo após a redemocratização. Não foram poucos os representantes do mundo empresarial-político e acadêmicos conservadores que ganharam espaço na mídia para classificar os jovens de ‘baderneiros’, ‘vândalos’ e outros termos pejorativos.

Tentavam, dessa forma, justificar a brutal repressão que, paradoxalmente, veio a cumprir o papel oposto do esperado: em vez de sufocar os protestos, a excessiva violência policial só fez aumentar a adesão e legitimidade dos manifestantes perante a opinião pública.

Mesmo que distorcida pela grande imprensa – obrigada a mudar o tom de sua cobertura diante da magnitude dos protestos, ficou claro que a luta é por direitos e políticas públicas voltadas para os interesses da população trabalhadora e não apenas para os poderosos interesses econômicos.

A partir das vitórias populares em Goiânia e Porto Alegre – que revogaram o aumento das passagens – o movimento se espalhou por todo o Brasil. Ainda sem saber como reagir, os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro insistiram na tentativa de desqualificar os protestos, agora ‘denunciando’ que eles teriam um suposto ‘conteúdo político por trás’. As ruas responderam afirmativamente: ‘Sim, é político!’.

Denunciamos a violência policial lançada pelos governos municipais e estaduais contra a população na rua, violando gravemente o direito constitucional de livre manifestação. Defendemos com toda a ênfase este direito, garantido pelo Art. 5, inciso 16 da Constituição, ao revés do que diz a lei geral da Copa que está hoje em vigor. A repressão policial demonstra o medo de mudanças por parte das elites, que têm se beneficiado da desordem econômica que fomenta crescentes desigualdades, opressão e sofrimento da maioria trabalhadora, em particular das mulheres e das crianças.

Foi por uma política livre da corrupção dos poderosos interesses econômicos que as ruas se encheram até alcançar mais de 100 mil no Rio de Janeiro na última segunda-feira, 17/06, assim como em dezenas de outras capitais.

Os cartazes pediam, dentre outras reivindicações:

Transporte público, gratuito e de qualidade, livre da ganância do mercado;

Passe livre e o direito ao transporte pelas camadas trabalhadoras;

Pela auditoria das dívidas públicas da União, estados e municípios;

Prioridade orçamentária para saúde e educação públicas, não para a dívida;

Pelo direito à liberdade expressão;

Repúdio à violência contra as mulheres;

Em defesa dos povos indígenas ameaçados de extermínio pelo agronegócio;

Pelo fim das privatizações dos serviços e bens públicos;

Pelo fim dos leilões do petróleo e do Pré-Sal;

Pela mudança do atual modelo de “desenvolvimento”, que exporta nossas riquezas naturais, concentra o dinheiro, desnacionaliza nossa economia e empobrece a nação;

Pela democratização das comunicações.

Pelo fim das privatizações e das concessões de serviços públicos ao setor privado;

“PÕE NO SUS OS 33 BILHÕES DA COPA!”; “QUEREMOS HOSPITAIS E ESCOLAS NO PADRÃO FIFA” clamava outro cartaz.

Nós da Rede Jubileu Sul Brasil apoiamos como justas as demandas presentes nos cartazes e faixas acima citados.

A Rede Jubileu Sul Brasil não aceita o ‘legado’ de dívida pública que está sendo gerado para financiar os Megaeventos e outras atividades de interesse econômico de uma reduzida elite, colocando o ônus principal dos custos abusivos da Copa do Mundo, Olimpíadas e outros mega projetos nas costas da população trabalhadora brasileira.

Os pagamentos da dívida pública da União em 2012 chegaram a R$ 753 bilhões, ou seja, mais de 2 bilhões de reais por dia! O estado de São Paulo, por exemplo, tem pagado mais de R$ 10 bilhões por ano à União e ao exterior, sustentando uma dívida que está sempre aumentando, mas que é supostamente considerada “draconiana”, “insustentável” e “impagável” pelo governador. “Em 1997 o estado de São Paulo renegociou suas dívidas que estavam em R$ 41 bilhões. Já pagou R$ 68 bilhões e ainda deve R$ 177 bilhões à União”.

Acenamos para o fato de que a auditoria das dívidas é um instrumento de moralização dos gastos públicos, capaz de identificar ilegalidades e, assim, liberar recursos capazes de cobrir os gastos como o passe livre (pois hoje as empresas de ônibus já recebem generosos incentivos das prefeituras). Auditar a dívida também é uma forma de conquistar o direito à saúde e educação de qualidade, além de outras políticas públicas de caráter universalizante que, de fato, possam gerar bem-estar e cidadania para a população brasileira tão massacrada e excluída desses direitos.

Toda a solidariedade e apoio aos jovens, idosos, mulheres e homens do Brasil inteiro que, democraticamente e resistindo à todo tipo de provocações e estigmas elitistas, estão, até agora, brindando a sociedade brasileira com uma aula prática de democracia popular.

20 de Junho de 2013.

REDE JUBILEU SUL BRASIL

 

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